sábado, 20 de junho de 2009

Aminas Biogênicas II - Catecolaminas, receptores e ações.




Os receptores para as catecolaminas se dividem em α e β que, embora estruturalmente relacionados, regulam processos fisiológicos distintos através do controle da liberação ou síntese de diversos segundos mensageiros (metabotrópicos). Cada uma dessas classes se subdivide em mais duas, obtendo-se, assim, receptores adrenérgicos α1, α2, β1 e β2.

Os receptores α1 são os denominados “excitatórios pós-sinápticos clássicos”. Localizados imediatamente adjacentes aos nervos adrenérgicos (SN simpático) nos órgãos-alvo periféricos, bem como em regiões específicas do cérebro, regulam vários sistemas efetores, quando de sua estimulação, através da interação com proteínas da família das proteínas G, que culmina com a regulação de diversas proteíno-quinases. Esse modo de transdução de sinal mobiliza as reservas endoplasmáticas de cálcio intracelular, bem como há evidências no músculo liso vascular de que os receptores α1 sejam capazes de regular os canais de cálcio, através da proteína G. Observa-se, então, que nos músculos lisos, os aumentos das concentrações do cálcio intracelular levam à ativação de proteíno-quinases como aquela que fosforila a cadeia leve da miosina (dependente de calmodulina), provocando tensão e conseqüente contração, exceção feita ao músculo liso gastrintestinal, no qual há hiperpolarização e relaxamento devido a ativação de canais de potássio dependentes de cálcio.

Os receptores α2, por sua vez, foram classificados diferencialmente por primeiramente terem sido descobertos na terminação do neurônio adrenérgico pré-sináptico, atuando nos mecanismos de feedback da norepinefrina sobre sua própria liberação. Essa inibição da liberação do neurotransmissor ocorre pela hiperpolarização gerada através da ativação de canais de potássio, controlada pela proteína G, e que pode ser mediada por cálcio ou resultar do acoplamento direto (intermediado por proteína G), entre os receptores e os canais de potássio. Uma vez abertos os canais de potássio, esse íon, que se encontra em maior concentração intracelularmente, pode sair da célula por difusão simples, reforçando a polarização mais negativa para o interior celular e positiva para o exterior (hiperpolarização). Atualmente sabe-se que há presença de receptores α2 em neurônios pós-sinápticos, onde estão associados à redução da atividade da divisão simpática do SN. Esses receptores pós-sinápticos são encontrados em diversos neurônios no cérebro, nas células vasculares e em outras de músculo liso, nos adipócitos e muitos tipos de glândulas epiteliais secretoras.

O receptor β1 é caracterizado pelo fato de nele a epinefrina e a norepinefrina serem praticamente eqüipotentes. Localiza-se principalmente, à semelhança de α1, nas adjacências das terminações nervosas nos órgãos periféricos, e também em regiões do cérebro. Novamente mediados pela proteína G, com estimulação da adenilatociclase e produção do cAMP como segundo mensageiro, a ação dos neurotransmissores colinérgicos nesse receptor culmina com a excitação, gerando contração da musculatura (por exemplo, aumento da freqüência cardíaca e a da força de contração do coração). Há canais de cálcio envolvidos, novamente, no processo.

O receptor β2, enfim, pode ser encontrado em localização pré-sináptica (atuando na regulação da liberação do neurotransmissor) ou pós-sináptica. Possuindo suas ações bioquímicas também mediadas por interação com proteínas G, os receptores β2 pós-sinápticos podem ser observados no miocárdio (mediando a contração), bem como nas células vasculares e em outras células da musculatura lisa (atuando para promover o relaxamento, notadamente nas vias aéreas e vasos sanguíneos que irrigam músculos esqueléticos e cardíacos).

É identificado ainda um terceiro tipo de receptor β, o qual se acredita atuar na regulação (ainda de maneira incerta em seres humanos) da lipólise. Por isso, sugeriu-se que o polimorfismo no gene que codifica para o receptor β3 possa estar relacionado com o risco de obesidade ou diabetes tipo 2 em alguma populações.

É interessante notar, também, que ambos os receptores α2 e β2 podem ser encontrados distantes das terminações nervosas que liberam os neurotransmissores, notadamente nas células do músculo liso vascular e em elementos sanguíneos (leucócitos e plaquetas), atuando fora do sistema nervoso por ativação através de catecolaminas circulantes (em particular a epinefrina) na corrente sanguínea.




Referências Bibliográficas:

Goodman, L. S. & Gilman, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 9a edição, 1996.

http://www.cerebromente.org.br/n12/fundamentos/neurotransmissores/nerves_p.html



Postado por Cecília Ramos Fideles.

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